IN THE SUMMER

– Amélia... – Mesmo após ter dito seu nome, a menina não tirou os olhos do que estava diante de si, e em momento algum eu me importei. Antes, diria que os raios dourados de sol iluminavam sua pele com intensidade e lhe davam um brilho a mais no olhar. Porém, agora, sei que é Amélia que consegue iluminar qualquer coisa, lhe basta esticar os lábios rosados em um sorriso e tudo em volta muda. E quando me encarou com seus olhos cor de chocolate, com a expressão mais serena que eu já vira, meu coração pareceu querer sair pela boca de tão inquieto. Até tentei sorrir, mas estava ocupado demais para pensar no quão estranho meu sorriso deve ter sido a ponto dela rir de mim. – Você é engraçado, Levih – Tirou uma mecha de seus cabelos negros que o vento rebelde fez esvoaçar em seu rosto, mas continuou rindo. Quando dei por mim, já estava entregue á diversão também. – E isso é bom? Ser... Engraçado. – Olhei de relance para o pôr do sol, sentindo meu rosto esquentar de repente. Perguntei-me internamente qual era o segredo de Amélia; o que ela fazia pra conseguir fazer eu me sentir tão estranho e tão confortável ao mesmo tempo, ou como ela conseguia brilhar mais que o Sol, ou porque eu fico triste só de pensar que a qualquer momento nossas mães virão nos buscar. – Ei, o que você tá pensando? – Prendi meu olhar ao seu novamente – Você não entenderia... – Estiquei minhas pernas, e a madeira velha abaixo de mim rangeu em resposta. Estávamos sentados lado a lado em um píer antigo, tão antigo que ninguém em sã consciência estaria fazendo o mesmo que nós. Embora houvesse canoas por perto – e uma delas estivesse ocupada por alguém desconhecido –, sabia que as pessoas tinham receio em andar por ali. Eu mesmo tinha, mas, apesar dela ter 10 e eu 12 anos, Amélia parecia não ter medo de nada, então eu tinha que tentar ser um pouco mais corajoso. Ah, como eu queria protegê-la e... – Levih! – Reconheci de imediato aquela voz de trovão de minha mãe. Fiz um muxoxo e olhei a menina ao meu lado – Você volta? – Ela perguntou, com o humor tão abalado quanto o meu. – Sempre – Abri um largo sorriso e, assim que fui retribuído com a risada mais suave de todas, fiquei de pé em um pulo, sentindo-me imensamente feliz por vê-la feliz também. Se era amor, eu não sabia, mas eu mal esperava para chegar o próximo verão e, assim, poder voltar a admirar o sorriso de Amélia.